O fotojornalista Ashley Gilbertson descobriu uma faceta única de Nova Iorque, não através da lente de uma câmara, mas através de corridas noturnas. Na escuridão da noite, a cidade revela um ritmo diferente, onde os camiões noturnos trabalham incansavelmente e os corredores encontram alegria em superar os seus limites.
Ashley Gilbertson, colaborador do New York Times, ProPublica e Unicef, e membro do grupo de corrida Orchard Street Runner, partilhou as suas experiências memoráveis a correr pelas ruas de Nova Iorque à noite. Ao contrário dos holofotes das maratonas diurnas, correr à noite proporciona uma conexão mais profunda com o ritmo de vida real da cidade, onde os camiões noturnos atuam como artérias de transporte, entregando mercadorias e sustentando a vida da metrópole que nunca dorme.
Perto da meia-noite, 236 corredores reuniram-se em Gowanus. Entre atletas de elite e aqueles que simplesmente amam correr, todos se uniram no espaço tranquilo da noite. O som das buzinas dos camiões de lixo ecoou em meio à multidão que ouvia as instruções, um som familiar da paisagem sonora urbana noturna. Sem barreiras, sem marcações de pista, eles são “rebeldes” de ténis, explorando livremente a cidade sob as luzes dos camiões noturnos e o luar.
“Memorizem o percurso”, gritou Joe DiNoto, o líder do grupo. E então, o grupo desapareceu na escuridão. O barulho dos trabalhadores da construção civil ecoou enquanto o grupo passava por um estaleiro, sob a sombra de guindastes e poças. A água espirrou sob os seus passos apressados, enquanto tentavam acompanhar o líder que mantinha um ritmo incrível.
Todos os anos, Nova Iorque recebe dezenas de milhares de maratonistas. Mas esta corrida noturna é diferente. Sem medalhas, sem aplausos, apenas o som das buzinas dos camiões noturnos e a aceitação das ruas como as maiores recompensas. Eles procuram novas experiências, e quando a noite cai, a velocidade deixa de ser o fator primordial. Em vez disso, o foco na estrada, no fluxo da cidade e nos camiões noturnos em movimento é o que importa.
Corredores reunidos à noite antes da corrida
Os corredores noturnos devem aprender a “ler” as ruas, observar o tráfego, especialmente os enormes camiões noturnos, procurar pontos de apoio seguros e integrar-se no ritmo da cidade. Não perturbar o ritmo agitado, aproveitar o seu fluxo e encontrar o seu próprio caminho.
De cima, Nova Iorque parece tão arrumada quanto um tabuleiro de xadrez. Mas da perspetiva de um corredor noturno, a cidade parece caótica: ruas estreitas entre edifícios altos, ratos a correr, fumo de camiões noturnos e o som de sirenes de ambulâncias a rasgar o silêncio da noite. Nova Iorque, a cidade de pessoas ambiciosas, que trabalham, se deslocam, compram sem parar. Não atrapalhe o caminho delas, porque o seu trabalho é sempre mais importante.
Quando as pessoas correm no meio da multidão caótica, elas encontram maneiras de se destacar: correndo ao longo do rio, em parques, à volta de lagos. Mas este grupo de corrida noturna é diferente, eles escolhem as ruas, escolhem a escuridão e os sons dos camiões noturnos para se desafiarem. A facilidade não é o que eles procuram.
Este grupo de corrida noturna “louco” foi fundado há 8 anos. Todas as terças-feiras à noite, eles reúnem-se sob um candeeiro de rua no Lower East Side, com apenas equipamento de corrida e informações sobre o percurso no Instagram. Exatamente às 20h, eles partem.
Grupo de corredores correndo por uma rua movimentada à noite
Os primeiros 400 metros são fáceis, através das ruas Canal e Delancey em direção à ponte. Passando por peões, bicicletas, correndo com carros, eles disparam sob as luzes da rua e as luzes dos camiões noturnos. Ao subir a ponte, o ritmo diminui, a respiração torna-se ofegante. “Desacelerem”, alguém diz, mas eles continuam a avançar.
Eles não são o grupo de corrida mais rápido de Nova Iorque, mas consideram-se “persistentes”, corajosos. Eles encontram terreno comum, conexão na escuridão e os desafios das ruas noturnas, onde o som dos motores dos camiões noturnos torna-se parte de uma sinfonia urbana.
Um corredor olhando para a cidade à noite
Num treino recente, Ashley estava exausto, ficando para trás. Ao chegar à Ponte de Manhattan, sozinho a encarar a magnífica cena noturna, ele chorou. Pensamentos estranhos invadiram a sua mente ao ultrapassar os seus limites. E ele percebeu que, naquele momento, no meio da escuridão e do som dos camiões noturnos, ele adorava tudo isto.
Correr é fácil. A crueldade está na mente, forçando-se a ultrapassar os seus limites. “Relaxe”, disse o corpo. “Isto não é uma corrida.” “Nem pensar”, respondeu ele, e continuou a correr.
Um camião a circular numa rua de Nova Iorque à noite
Quando chegou a Nova Iorque, Ashley costumava ficar irritado com a agitação, a pressa. A enorme multidão, o congestionamento do trânsito, as longas filas de espera. Mas agora, correr à noite regularmente ajuda-o a compreender melhor a cidade. Ele encontra uma conexão, não lutando mais contra ela, mas encontrando uma maneira de usá-la. Ele entende que os camiões noturnos, assim como os corredores, são uma parte essencial do ritmo de vida de Nova Iorque, cada um à sua maneira, juntos criando uma identidade urbana única.